Saturday, June 15, 2013

Três palavras nuas



Perder-te e não ganhar o pão
da escrita
a massa lêveda de um dia
em moedas certas para o
desacerto
abro a página e leio
o branco dos dedos
no vagar da tua mão presa
à fivela de um nome
que já não há
canto meu amor a dor
que não é minha e o medo
que te pertence a ti
no desenho inútil
de três palavras
nuas
vou morrer de mim
como no verso do herberto
e da tua morte
cantada antes
da voz.

Sunday, June 09, 2013

O nome




Não sei já de ti mais que o nome
que não era teu, letras soltas de um verbo
gasto, sem chão sobrante para o amor
crescente. Na ponte sobre as dunas
a casa antiga do que fomos, tudo apodrecido
na lava insolvente da dor e o coração lentamente
a decompor-se: a cada veia o húmus do sangue
lançado à terra, inútil como a madeira porosa
sob os passos que não houve. Tudo secou
no inverno dos anos e sobre a ponte
do teu nome outras tábuas ainda.
Mas em nenhuma o ardor do mar, só
a solidão incapturável dos peixes em marés
sucessivas de sal e ondas. Em nenhuma tábua
a luz a pique do futuro, uma luz
de cal e mosto como de óculos
para o cansaço da alma. Nem sequer na paz
desse oceano onde de barco
regressei à terra sem casa da véspera.

O que não foi não foste tu ainda e
no entanto estás aqui, no avesso
de um nome que não quer saber-se
e me fita a medo, num ranger surdo
de madeiras novas. No silêncio
a noite de cada dia e mesmo assim
a sombra de quatro paredes, em beijos
felizes de betão e luz. Como dizer-te,
meu amor, da solidez de um porto
sem tecto ainda para a timidez dos barcos?