Sunday, June 09, 2013

O nome




Não sei já de ti mais que o nome
que não era teu, letras soltas de um verbo
gasto, sem chão sobrante para o amor
crescente. Na ponte sobre as dunas
a casa antiga do que fomos, tudo apodrecido
na lava insolvente da dor e o coração lentamente
a decompor-se: a cada veia o húmus do sangue
lançado à terra, inútil como a madeira porosa
sob os passos que não houve. Tudo secou
no inverno dos anos e sobre a ponte
do teu nome outras tábuas ainda.
Mas em nenhuma o ardor do mar, só
a solidão incapturável dos peixes em marés
sucessivas de sal e ondas. Em nenhuma tábua
a luz a pique do futuro, uma luz
de cal e mosto como de óculos
para o cansaço da alma. Nem sequer na paz
desse oceano onde de barco
regressei à terra sem casa da véspera.

O que não foi não foste tu ainda e
no entanto estás aqui, no avesso
de um nome que não quer saber-se
e me fita a medo, num ranger surdo
de madeiras novas. No silêncio
a noite de cada dia e mesmo assim
a sombra de quatro paredes, em beijos
felizes de betão e luz. Como dizer-te,
meu amor, da solidez de um porto
sem tecto ainda para a timidez dos barcos?

1 Comments:

At June 10, 2013 11:40 AM, Anonymous JM said...

Não sei o que a fez voltar, mas ainda bem que voltou. Para mim não foi embora nunca e hoje é um dia feliz. Belíssimo este poema.

 

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