Friday, October 13, 2006

Uma esplanada sobre o mar


Entre uma reunião e uma conferência fui hoje ver o mar. Depois da ponte sobre a ria de Aveiro, surgem logo ao nível dos olhos as altas dunas da praia, hoje branquíssimas sob o sol enfermiço de outono. No ainda longe da ponte, pequenas manchas verdes começam a querer pousar na areia, ondulando ao vento como aranhas na busca vagarosa da presa; um pouco mais para lá do verde entristecido dos arbustos estava enfim o verde quase impossível da água. Visto de perto, o mar estava exactamente assim, impossível e absurdamente verde, com a brancura da espuma a lembrar uma fresca dentadura de anúncio. Não havia praticamente ninguém naquela esplanada sobre o mar e a praia estava quase vazia, virgem ainda, na quieta lisura da areia, dos passos descuidados dos homens. Alguns surfistas debatiam-se com a força das ondas e daí a pouco eram apenas uma série de pontos negros no verde imenso do mar. Por momentos o vento susteve o rodopio do ar e tudo parou, ao passo silencioso de uma avioneta na exacta linha da beira-mar. Às vezes há momentos perfeitos. Que bom seria se ali tivéssemos estado os dois.

1 Comments:

At October 18, 2006 1:11 AM, Anonymous Anonymous said...

tres caminhos, duas linhas paralelas, duas vezes (depois de "Uma esplanada sobre o mar", a linha férrea e fria, a chuva de lágrimas...) - deliberadamente, subconscientemente, ou mera coincidência?

 

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