A sede dos dias imortais
O ACTO MALÉFICO DE SER
É um destino estranho
ter as mãos que matam o amor
ou a peçonha que desama o ser amado. O outro
mirra pelo tempo, por entre crueldades
que desempenhou tão bem, tão sem saber. O outro, o divino,
o deslumbrante, o tal. O que é investido como um nobre
e útil como um deus, e denso, e tão
miraculante de paixão. E o pobre, que é apenas
vivo e homem, vai inexistindo entre protestos
de ser. Evaporado no escuro, desaparece em nódoas
de amizade, que nunca
possuo pelo tempo, não sou aniquilada
o dia inteiro - só às vezes me convenço
que ele existe, maléfica mulher devoratriz
de carne, com sede de dias
imortais.
Isabel Cristina Pires, Todas as Cores do Azul, Lisboa, Caminho, 2001, p.77.
É um destino estranho
ter as mãos que matam o amor
ou a peçonha que desama o ser amado. O outro
mirra pelo tempo, por entre crueldades
que desempenhou tão bem, tão sem saber. O outro, o divino,
o deslumbrante, o tal. O que é investido como um nobre
e útil como um deus, e denso, e tão
miraculante de paixão. E o pobre, que é apenas
vivo e homem, vai inexistindo entre protestos
de ser. Evaporado no escuro, desaparece em nódoas
de amizade, que nunca
possuo pelo tempo, não sou aniquilada
o dia inteiro - só às vezes me convenço
que ele existe, maléfica mulher devoratriz
de carne, com sede de dias
imortais.
Isabel Cristina Pires, Todas as Cores do Azul, Lisboa, Caminho, 2001, p.77.
Todas as páginas já tão lidas e relidas e de repente surge um poema ainda virgem de sentido. Aconteceu em seta e a luz destas palavras passa devagarinho para a luz dos dias.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home