
Que
Dália Negra não é um filme revolucionário, pelo menos como parece ter sido
Femme Fatale na carreira de Brian de Palma? Concedo. Que Scarlett Johansson e Hilary Swank estão (mais a primeira do que a segunda) notoriamente subaproveitadas, em personagens sem muita espessura, apesar da sua potencial riqueza? É verdade. Mas nada disso retira ao filme aquilo que ele também é - um elegantíssimo exercício de estilo sobre a idade de ouro do cinema americano. Ora a elegância de um realizador não é nunca de desprezar, porque, como também sucede com as outras pessoas, é mais rara do que se pensa. E depois (mas devia dizer sobretudo), o filme de Brian de Palma tem Mia Kirshner, em imagens inesquecíveis de inocência e fragilidade. A figura trágica por excelência. A cena em que Elizabeth Short revela entre risos a sua história, rompendo as meias com as mãos para conseguir dominar as lágrimas, vale o todo do filme. Não é sequer uma cena, é um poema de amor, tragédia e morte. Numa entrevista de casting, alguém pergunta à dália negra se ela conseguiria um dia representar a tristeza. Provavelmente não, se o tentasse com a disciplina da razão, mas não conheço em cinema uma tão bela imagem da tristeza como a das suas unhas insinuando-se pelos buracos das meias. Há imagens que valem um filme e actores que o valem também. Espantosa, espantosa Meryl Streep, que faz de um filme banal (
O diabo veste Prada) um filme realmente com interesse. Esta senhora, tão elegante na pele de uma requintada editora de moda nova-iorquina como na de uma mulher de meia idade do Iowa, não vale todo o filme, é todo o filme. Muito, muito de vez em quando, há actrizes assim.
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