Thursday, November 02, 2006

Nespereira


Nespereira não estava assim, com o azul de Agosto sobre a Serra, mas o ar era ainda morno, levemente dourado das manchas de cobre nas folhas das videiras. A laje estava vazia do trabalho humano - nem grão, nem milho, nem a voz estrepitosa das mulheres ecoando no espaço. Havia silêncio e neblina e ainda o cimo impreciso da serra, aparecendo a espaços por entre a massa escura do céu, como se flutuasse no mar leitoso e sem peso das nuvens. Em casa um cheiro inesperado a casa habitada, morno também e confortável como um braço onde finalmente repousasse. Quando lá voltar, no Natal, já a súbita navalha do frio terá aquietado pessoas e rebanhos, revolvendo nervosamente o ar com o cheiro a lenha e a fumo das lareiras. Entrarei em casa, porei as mãos em concha viradas para o lume e direi apenas que está bem.

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