Monday, November 27, 2006

Desert thoughts - 4

A mulher acreditou que talvez fosse possível chegar lá, apesar dos vários mundos que a separavam do desejado futuro dos seus passos. E talvez fosse possível, apesar do calor, da sede, do sol a pique e da violência da areia no perfil obtuso da hora. Talvez sim, talvez consiga, pensava ela, esquecendo por momentos que afinal transportava lá dentro, no oco mais oco de si, a carcaça já óssea do sangue. Mas aquilo na fotografia não é um esqueleto humano, disse o homem bem dentro da cabeça da mulher. Pois não, lembrou ela, é apenas o cadáver de um animal à beira de se tornar gente, porque é o corpo de alguém ainda com a ilusão dentro. É verdade que não chegou onde queria, coitado, tal como eu provavelmente também não chegarei, mas diz a História que o importante não é chegar onde se quer, o importante são as marcas que vamos deixando ao longo do caminho percorrido. A mulher olhou uma vez mais para a redondez da fenda aberta na areia, por detrás do corpo do animal com a ilusão dentro, e sorriu vagamente enquanto contemplava os vales profundos que guardava nas mãos.

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