Friday, September 28, 2007

O centro da terra - 2, ou Roseman Bridge

Roseman Bridge 

A mulher tinha pensado rever o filme ainda nessa noite e por isso acabara de o pedir ao amigo a quem o tinha emprestado. Era tarde para quase tudo menos para isso e naquele momento levava o pequeno rectângulo de plástico ao lado da mala, no assento do carro. Entretanto entrou na ponte e olhou ocasionalmente para o lado, ultrapassando um Passat cinzento que rolava devagar. Como o dele, pensou. E olhou melhor e viu com espanto que era ele. Sorriu para si porque de repente entendeu e mudou-se devagar para a faixa da direita. Não havia mais carros sobre a ponte e mesmo quando depois outros carros apareceram continuaram só os dois em cima dela, muito devagarinho, a mulher à frente e o homem atrás, até que na rotunda ela fez sinal para a esquerda, sabendo que o homem seguiria em frente. Não chovia e nenhuma mão segurava com força o trinco da porta do carro. A mulher disse-lhe apenas boa-noite, meu amor, e soube que quando chegasse a casa arrumaria o filme na estante.

Friday, September 21, 2007

O centro da terra

Neil Jordan, The End of the Affair, sobre o romance homónimo de Graham Greene
O amor não acaba só porque deixaremos de nos ver, disse Sarah, também amamos Deus durante toda a vida sem nunca o termos visto. Não é esse o meu tipo de amor, respondeu Bendrix. Mas talvez, respondeu ela, seja esse o único que existe. A história do Greene não termina aqui, diz agora a mulher. E o homem concorda, sim, prometo, e depois então voltaremos ao romance, ao filme, ao Greene. E beijou-a uma vez mais contra a parede, devorando com a alma o vazio que seria enquanto lá por dentro odiava Deus um pouco mais.